Hoje, a relação entre probióticos e imunidade está cada vez mais clara. Por meio de estudos clínicos e in vivo, cientistas são capazes de identificar as vias envolvidas e os benefícios das cepas probióticas.

Defesas e tolerância: dois lados da mesma moeda

A principal função do sistema imunológico é proteger o nosso organismo de doenças pelo reconhecimento e eliminação de patógenos, como vírus e bactérias, células infectadas e até cancerosas.

Já a consequência é o reconhecimento de antígenos próprios e ambientais (alimentos e substâncias transportadas por via aérea, entre outros) como não prejudiciais: a imunotolerância.

Em um mundo perfeito, o sistema imunológico desempenha esses dois papéis perfeitamente.

Mas, quando a resposta imune está sobrecarregada, infecções e doenças podem ocorrer.

Por outro lado, uma tolerância imunitária fraca pode ser traduzida em reações alérgicas ou doenças autoimunes.

O sistema imunológico amadurece e evolui ao longo da vida: defesas específicas ou problemas de tolerância podem surgir em cada fase.

Em lactentes e crianças, como o sistema é imaturo, as infecções são comuns e as atopias são uma consequência de hipersensibilidade (eczema, asma).

Na idade adulta, a resposta imune amadurece, com uma grande variação de células de memória.

Entretanto, fatores de estresse pode alterar o equilíbrio e o corpo se torna mais vulnerável a infecções agudas ou crônicas.

Já com o avanço da idade, o corpo envelhece e o mesmo acontece com o sistema imunológico: ele perde a sua plasticidade e infecções acabam ocorrendo com mais frequência.

Além disso, a inflamação crônica é um denominador comum de muitos problemas de saúde na velhice.

Probióticos e imunidade: uma relação estreita

A relação entre o sistema imunológico e a microbiota intestinal é comprovada cientificamente.

Isso porque parece que a microflora digestiva desempenha um papel-chave no desenvolvimento e manutenção das defesas imunitárias: a microflora está particularmente envolvida na regulação do equilíbrio e modulação da produção de citocinas.

Como acontece com o sistema imunológico, a microbiota digestiva evolui ao longo da vida e seu equilíbrio é afetado por fatores de estresse.

Nesse contexto, a utilização de probióticos capazes de equilibrar e interagir com a microbiota hospedeira surge como uma estratégia potencial para influenciar positivamente a resposta imune.

Nos últimos 20 anos, pesquisas têm demonstrado os efeitos dos probióticos em diferentes níveis:

  • influenciam o efeito de barreira;
  • ajudam a proteger a superfície do intestino de potenciais agentes patogênicos;
  • evitam a translocação do lúmen intestinal, aumentando a produção de mucina e melhorando a junção entre as células epiteliais, ou competindo com a ligação do patógeno.

Probióticos: fortalecimento da imunidade em crianças

O sistema imunológico das crianças, ainda em amadurecimento, tem maior risco de contrair infecções ou doenças atópicas.

Crianças pequenas são propensas a resfriados e podem ter entre  8 e 12 ocorrências ao ano.

A dermatite atópica, geralmente, começa nos primeiros 6 meses de vida e sua prevalência é de 14% entre crianças com menos de 4 anos.

Benefícios na redução do risco de infecção foram demonstrados em um estudo clínico com uma combinação de três cepas: Bifidobacterium bifidum Rosell-71, Bifidobacterium infantis Rosell-33 e Lactobacillus helveticus Rosell-52.

Essa combinação demonstrou efeito benéfico em crianças em um estudo aleatorizado sobre a prevenção de infecções comuns do inverno.

Outro estudo multicêntrico foi realizado na França e demonstrou uma redução de 25% no risco de infecções em crianças que receberam suplementação de probióticos, em comparação às que utilizaram o placebo.

Já o número de crianças que perdeu pelo menos um dia de escola foi significativamente reduzido em 40%.

Estudos também confirmaram a eficácia dos probióticos em várias doenças gastrointestinais, tais como a diarreia associada a antibióticos, a gastroenterite aguda [7] e a dermatite atópica.

Efeitos dos Probióticos em Crianças

Imunidade Geral

Infecções Gastrointestinais e Respiratórias

Atopias

Lactibacillus helveticus

+++

+++

++

Bifidobacterium infantis

+++

+++

+

Lactobacillus bifidum

+++

+++

+

Lactobacilus rhamnosus

+++

+++

++

Bifidobacterium lactis

+++

+++

Lactobacillus paracasei

+

+

+

Lactobacillus reuteris

+

+

Saccharomyces boulardii

+++

+++

 

Reforço da imunidade em adultos

Em adultos saudáveis, infecções comuns, como gripes e resfriados, podem ser frequentes e contagiosas, especialmente durante o inverno ou nas transições sazonais.

Além disso, o estresse e exercícios de alta intensidade podem aumentar o risco de infecções comuns, devido a um efeito imunossupressor.

Um estudo clínico publicado recentemente investigou os benefícios de cepas de probióticos individuais sobre a ocorrência de infecções comuns (gripes e resfriados) em indivíduos estressados.

Concluiu-se que o consumo diário de Bifidobacterium bifidum oferece benefícios.

Outro estudo clínico demonstrou benefícios interessantes de outra cepa probiótica (Lactobacillus helveticus) na resposta imunológica em adultos estressados ​​[12].

 

Efeitos dos Probióticos em Adultos

Imunidade Geral

Infecções Comuns do Inverno

Reforço na imunidade de atletas e individuos em situação de estresse

Bifidobacterium bifidum

+++

+++

+++

Bifidobacterium infantis

++

++

Lactibacillus helveticus

++

++

Bifidobacterium longun

++

++

Lactobacillus bifidum

+++

+++

+

Lactobacilus rhamnosus

++

++

Lactobacillus paracasei

++

+

++

Lactobacillus brevis

+

+

+

Saccharomyces boulardii

+++

+++

++

 

Probióticos: Imunidade em idosos

Os idosos são mais suscetíveis à doenças infecciosas como a gripe, que podem levar, em condições mais graves, ao desenvolvimento de uma pneumonia.

Em parte, isso se deve à imunossenescência: há um forte conjunto de evidências que demonstram que o envelhecimento é acompanhado de graves alterações no sistema imunitário.

Entre essas alterações estão:

  • o tamanho da subpopulação de células T;
  • o padrão de secreção de citocinas;
  • a capacidade de replicação celular;
  • produção de anticorpos, o que pode resultar em uma resposta menor à vacinas e um controle de vírus latentes prejudicado.

Outra consequência é a modificação profunda dentro da rede de citocinas, que leva ao desenvolvimento de um estado inflamatório de baixo grau.

A microflora digestiva também é afetada pelo envelhecimento, principalmente sua diversidade, que é reduzida.

Já a modulação da microbiota intestinal por Bifidobacteria tem sido defendida como uma boa estratégia para os idosos.

 

Efeitos dos Probióticos em Idosos

Imunidade Geral

Gripes e Infecções Respiratórias

Inflamações

Lactibacillus helveticus

++

+

++

Bifidobacterium bifidum

++

++

+

Bifidobacterium infantis

+

+

+

Bifidobacterium longun

++

++

++

Bifidobacterium lactis

+

+

+

Lactobacilus rhamnosus

+

+

Lactobacillus paracasei

+

+

Lactobacillus brevis

+

+

 

Evidências dos efeitos benéficos dos probióticos tem sido comprovada na melhora das defesas imunológicas, em particular no caso das bifidobactérias e lactobacilos.

As cepas podem ser formuladas em preparações personalizadas, associadas a vitaminas ou minerais específicos, e em formatos adaptados para cada população-alvo, como: cápsulas, comprimidos orodispersíveis e sachês para dissolução em bebidas ou alimentos, entre outros.

Referências

1- FABER D.L.; YUDANIN N.A.; RESTIFO N.P. Human memory T cells: generation, compartmentalization and homeostasis. Nat Rev Immunol, v. 14, n.1, p. 24-35, jan. 2014. 

2- MACPHERSON C. et al. Multi-strain probiotic modulation of intestinal epithelial cells’ immune response to a dsRNA ligand, polyinosinic:polycytidylic acid. Applied and Environmental Microbiology, v.80, n.5, p.1692-700, 2014. 

3- MACPHERSON C.  Host-Microbe Interactions: Impact of a probiotic multi strain formulation on Intestinal Epithelial Cells co-challenged with a proinflammatory stimulus. In PROBIOTA, Amsterdã, fev. 2015. 

4- CAZZOLA M.; TOMPKINS T.A. e MATERA M. G. Immunomodulatory impact of a synbiotic in TH1 and TH2 models of infection. Ther Adv Respir Dis, v.4, n.5, p. 259-280, 2010a. 

5- CAZZOLA M.; PHAM-THI N.; KERIHUEL J.C.; DURAND H.; BOHBOT S. Efficacy of a synbiotic supplementation in the prevention of common winter diseases in children: a randomized, double-blind, placebo-controlled pilot study. Ther Adv Respir Dis, v.4, n.5, p. 271-178, out. 2010b. 

6- LANGKAMP-HENKEN B.; ROWE C.C.; FORD A.L.; CHRISTMAN M.C.; NIEVES C.J.; KHOURI L.; SPECHT G. J.; GIRARD S.A.; SPAISER S.J. e DAHL W.J. Bifidobacterium bifidum R0071 results in a greater proportion of healthy days and a lower percentage of academically stressed students reporting a day of cold/flu: a randomised, double-blind, placebo-controlled study. British Journal of Nutrition, 2015. 

7-FOSTER L.M.; TOMPKINS T.A. e DAHLl W.J. A comprehensive post-market review of studies on a probiotic product containing Lactobacillus helveticus R0052 and Lactobacillus rhamnosus R0011. Beneficial Microbes, v.2, n.4, p. 319-334, dez. 2011. 

8-ERDOGAN Ö.; TANYERI B.; TORUN E.; GÖNÜLL, E¨.; ARSLAN, H.; ERENBERK, U.; ÖKTEM, F. The Comparition of the Efficacy of Two Different Probiotics in Rotavirus Gastroenteritis in Children. Journal of Tropical Medicine, v.2012, artigo ID 787240, p. 1-5. 

Referências

9- ISLEK A.; SAYAR E.; YILMAZ A. et al. The role of Bifidobacterium lactis B94 plus inulin in the treatment of acute infectious diarrhea in children. Turk J Gastroenterol, v. 25, p. 628-33, 2014. 

10- CHERNYSHOV, P.V. Integrated treatment of infants, patients with atopic dermatitis. Дерматологія [Dermatology] v. 3, p. 23-26, 2007.

11- CHERNYSHOV, P. V. Randomized, placebo-controlled trial on clinical and immunologic effects of probiotic containing Lactobacillus rhamnosus R0011 and L. helveticus R0052 in infants with atopic dermatitis. Microbial Ecology in Health and Disease, v.9, n. 21, p. 228–232. 

12- ECCLES et al. A study on winter infections in students. Internal report. Common Cold Centre and Healthcare Clinical Trials, Cardiff School of Biosciences, Cardiff University, 2008.

13- CLANCY et al. Reversal in fatigued athletes of a defect in interferon γ secretion after administration of Lactobacillus acidophilus. Br J Sports Med , v. 40, p. 351-354, 2006. 

14- RONDANELLI M.; GIACOSA A.; FALIVA M.A., PERNA S; ALLIERI F.; CASTELLAZZI A.M. Review on microbiota and effectiveness of probiotics use in older. World J Clin Cases, v. 16, n.3(2), p. 156-62, 16 fev. 2015. 

15- DIOP L.; GUILLOU S.; DURAND H. Probiotic food supplement reduces stress-induced gastrointestinal symptoms in volunteers: A double-blind, placebo-controlled, randomized trial. Nutr Res, v.28, n.1, p. 1-5, 2008.  

16- MESSAOUDI M.; R LALONDE; VIOLLE N.; JAVELOT H.; DESOR D. et al. Avaliação das propriedades psicotrópicas-like de uma formulação probiótico Lactobacillus helveticus (r0052 e Bifidobacterium longum R0175) em ratos e em humanos.  Br J Nutr, v.26, n,1, p.9, 2010.